segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Palestra de 07.02.2022

Título: Meditação e Saúde Mental: mitos e verdades

O coordenador do curso de Medicina da FMP, professor Paulo Klingelhoefer de Sá, apresentou o encontro, sendo pela primeira vez realizado tanto presencialmente quanto por videoconferência pelo aplicativo Zoom.


O professor Paulo Sá discorreu sobre aspectos históricos, científicos e práticos da meditação, bem como sua aplicabilidade na Saúde Mental, ponderando sobre mitos e verdades que circundam o tema. Ficou claro a importância da prática, seus benefícios e possibilidades para o uso terapêutico.

Por fim todos os presentes no encontro, bem como todos os participantes da modalidade virtual, puderam realizar uma prática meditativa breve, guiada pelo palestrante, que experimentaram os benefícios imediatos da técnica.


Na foto: Professores Thiago Coronato, Paulo Sá e Rosane Bittencourt
 
 
Observação: se você assistiu a palestra e não recebeu seu certificado por e-mail,  por favor contacte-nos pelo e-mail acad.petropolitana.psiquiatria@gmail.com


segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Sessão Clínica de 06.12.2021

Título: O Difícil Tratamento da Discinesia Tardia

A acadêmica Giovanna Velloso abriu a reunião definindo o transtorno, que representa grave efeito colateral tardio ao uso de antipsicóticos, gerando ampla gama de movimentos anormais e involuntários, acometendo diversos seguimentos corporais. Apresentou ainda um panorama histórico, discutiu alguns diagnósticos diferenciais, como os sintomas extrapiramidais agudos, além de falar sobre a epidemiologia e fatores de risco.


Em seguida José Carlos Baldelim (em seus últimos dias como acadêmico, pois gradua-se em medicina em poucos dias) discursou sobre a fisiopatologia da Discinesia Tardia (a importância das vias dopaminérgicas e as áreas cerebrais acometidas), reforçando o roteiro de avaliação para realização de um diagnóstico preciso.


A professora Rosane Bittencout abrilhantou o encontro trazendo um caso clínico de uma paciente Bipolar que apresentou Discinesia Tardia pelo uso de Haloperidol, sendo tratada em meados de 2006 com a troca do antipsicótico típico por atípico (Clozapina), vitamina E 400 UI 1x/dia e Nimodipino 30 mg 2x/dia, além de condutas não farmacológicas como exercícios físicos, alongamentos musculares e massagens localizadas. A discussão mostrou como o tratamento há alguns anos já apresentava ideias semelhantes aos medicamentos que ainda seriam "descobertos" para uso nos dias atuais.


Então o professor Thiago Coronato encerrou a reunião apresentando o caso clínico de uma paciente que apresentou Discinesia Tardia sob uso de Levomepromazina para insônia. O protocolo sugerido para a paciente foi a interrupção do fármaco causador, substituição por antidepressivo indutor de sono (mirtazapina), e introdução de Ginkgo Biloba 240mg para o tratamento dos sintomas residuais da Discinesia, com respaldo na literatura vigente. A Ginkgo Biloba é uma opção de baixo custo, presente no mercado brasileiro, em contra-partida a opções de alto custo que precisam ser importadas. Os 2 trabalhos científicos (pôsteres) que descrevem o caso podem ser lidos no link "Produção Científica" deste blog, bem como a literatura que respalda o uso da Ginkgo Biloba encontra-se ao final dos trabalhos, nas referências.

A discussão com os alunos e psiquiatras presentes foi de valor inestimável e com essa reunião encerramos nosso primeiro ano de atividades.






Retornaremos nossas atividades presenciais em fevereiro de 2022.
Nosso próximo encontro será no dia 07.02.2022 às 18:30, com o professor Paulo Sá que falará sobre "Meditação e Saúde mental - verdades e mitos". Não perca!

Previsão dos próximos encontros:
- Janeiro: férias
- Fevereiro: "Meditação e Saúde Mental" (Prof. Paulo Sá)
- Março: Transtorno do Estresse Pós-Traumatico (Profª Corina Molter)
- Abril: Porfiria aguda intermitente [organicidade e Psiquiatria] (Prof. Fernando Nasser)



quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Sobre a "Identidade do Eu"

 

 
O sociólogo Zygmunt Bauman possui um livro que recomendo a leitura chamado "Identidade - entrevista a Benedetto Vecchi". Trago um pequeno trecho para iniciar nosso raciocínio:

"Minha opinião é igual à sua... Sim, de fato, a "identidade" só nos é revelada como algo a ser inventado, e não descoberto; como alvo de um esforço, "um objetivo"; como uma coisa que ainda se precisa se construir a partir do zero ou escolher entre alternativas e então lutar por ela e protegê-la lutando ainda mais - mesmo que, para que essa luta seja vitoriosa, a verdade sobre a condição precária e eternamente inconclusa da identidade deva ser, e tenda a ser, suprimida e laboriosamente oculta."

 Identidade, algo que parece muito intuitivo a todos, possui uma construção complexa no decorrer da vida e uma tendência a uma estabilidade, uma solidez. Bauman, conhecido pelo conceito de modernidade líquida, talvez nos mostre em outros momentos de sua obra de que cada vez mais a solidez, mesmo da personalidade, talvez não seja tão sólida assim. Identidade traz em si não apenas aspectos estritos como saber seu próprio nome, ou reconhecer aspectos intrínsecos à sua fisionomia, ou saber sua data de nascimento, ou o número do CPF, mas traz aspectos culturais, históricos, e até sobre sua própria ancestralidade. A identidade é um universo em si só.

Ao estudarmos a mente humana temos a Identidade do Eu como um dos setores de funcionamento (e consequentemente de possibilidade de disfunção) do sujeito quando avaliamos a chamada "Consciência do Eu" que possui como desdobramento a conciência da existência do eu, identidade do eu, unidade do eu, atividade do eu e os limites do eu-mundo, determinando as vivências e compreensões inerentes às vivências psíquicas.

Elie Cheniaux em seu Manual de psicopatologia (4ª edição) nos diz sobre as alterações da consciência da identidade do eu (página 162):

"Quando a consciência da unidade está alterada, o paciente vivencia uma profunda transformação de sua personalidade ou do seu corpo. Sente-se como se não fosse mas a mesma pessoa, especialmente em comparação à pessoa que era antes do primeiro surto psicótico. Ele pode acreditar, em alguns casos, que a sua existênciaanterior foi na verdade vivida por outro. Pode acontecer também de o paciente, em função de um delírio, assumir uma nova identidade, em substituição à anterior: ele nega ser João da Silva e afirma ser Jesus Cristo (falsa orientação delirante. (...)"

Femi Oyebode, no livro SIMS - Sintomas da mente (5ª edição), discorre (página 197):

"Eu sou quem eu era semana passada ou 30 anos atrás; sou quem serei pela próxima semana ou daqui a 10 anos. Essa verdade, que pode ser dita sem hesitação, não é certa para algumas pessoas que sofrem de esquizofrenia e outros transtornos mentais, ou até mesmo para pessoas saudáveis em situações anormais. (...) Uma pessoa que se sente ameaçada em seu emprego e tem medo de ser demitida provavelmente não irá funcionar bem, devido à sensação de impermanência. A sensação de continuidade de si mesmo e de seu papel é um pressuposto essencial da vida, sem o qual o comportamento não pode ocorrer de forma adequada. Em um estado saudável, não temos dúvidas sobre a continuidade de nós mesmos desde o passado até o presente. Entretanto, pacientes com esquizofrenia ocasionalmente acreditam não terem sido a mesma pessoa sempre. (...)"

Volto com o trecho de Bauman: "a "identidade" só nos é revelada como algo a ser inventado, e não descoberto; como alvo de um esforço". Certamente nos reinventamos sempre e no decorrer do tempo amadurecemos nossa visão sobre o mundo e sobre quem somos e discretamente alteramos nossa identidade de foro íntimo. Mas existe uma essência identitária contínua desde que nos entendemos como quem somos e quando nos lembramos de nossa história em se tratando desse eu que vive dentro de nossa mente, nossos sentimentos e nossa personalidade. As mudanças discretas no decorrer do tempo, ou essa "invenção autêntica de nós mesmos", frente às experiências são comuns e possíveis. Porém,  há transtornos que acometem o funcionamento da mente, principalmente aqueles relacionados aos fenômeno da psicose, que podem ser temporários ou permanente, capazes então de alterar essa percepção sobre a própria identidade do eu, que certamente é eixo central para a gestão da própria vida e da vida em sociedade. Outros eventos externos ou psicopatológicos, capazes de alterar a percepção sobre a identidade do eu são o efeito de substâncias psicoativas, a despersonalização, os fenômenos dissociativos, entre tantos outros.

Prof. Thiago Coronato Nunes


sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Sessão Clínica de 01.11.2021

Título: Transtorno de Ansiedade de Difícil Controle
Apresentação: Ramon de Vasconcelos Martins
Professores presentes: Corina Molter, Rosane Bittencourt e Thiago Coronato
Público: 17 pessoas (acadêmicos de medicina, membros da Liga de Saúde Mental da UNIFASE/FMP, médicos generalistas, médicos psiquiatras de Petrópolis).

Ramon de Vasconcelos, pós-graduando em psiquiatria, apresentou um caso clínico sobre transtorno de ansiedade resistente aos tratamentos estabelecidos até o momento, tendo tido a oportunidade de levar à sessão clínica a paciente em questão e sua psicóloga, que puderam enriquecer o debate através de entrevista realizada em tempo real. A comunidade acadêmica e os professores presentes puderam debater o caso e sugerir condutas a serem tentadas pelo médico assistente. Após a reunião realizada no Ambulatório Escola da Faculdade de Medicina, no bairro Samambaia, em Petrópolis, houve um lanche para confraternização dos presentes.

A título de curiosidade para aqueles que não estiveram na sessão, a paciente já fez diversos esquemas de tratamentos com antidepressivos isoladamente ou associados, sem resposta adequada para seus sintomas ansiosos. Sugeriu-se que a paciente utilize, de forma escalonada até dose plena, a substância buspirona, e na falha desta intervenção, que utilize pregabalina em alta dosagem. Essas decisões foram baseadas no diagnóstico exaustivamente discutido, na psicopatologia específica da paciente em questão e nos tratamentos já utilizados anteriormente.


Thiago Coronato, Rosane Bittencourt, Corina Molter e Ramon de Vasconcelos